Uma Comunidade de Transformação focada no impacto.

Como poderiam as cidades diminuir radicalmente suas emissões de carbono e ao mesmo tempo abordar o problema da desigualdade crescente?

Por que os residentes de baixa renda deveriam se preocupar com a sua pegada de carbono quando convivem com um fornecimento de energia elétrica instável e ruas que inundam sempre que chove?

Os órgãos municipais de habitação, de saúde pública e de proteção ambiental poderiam trabalhar de forma construtiva com empresários locais, grupos políticos de base com filiações partidárias diversas e organizações da sociedade civil para conceber e implementar soluções climáticas transformadoras?

Estas são apenas algumas das perguntas que as partes interessadas dos laboratórios urbanos na Argentina, no Brasil e no México estão fazendo enquanto avançam de forma pioneira na ação climática colaborativa em cinco cidades, em cooperação com o Projeto Alianças para Transformação Urbana (TUC).

Com base em uma estrutura de governança climática colaborativa e inclusiva, os Laboratórios conceberam e implementaram projetos catalisadores que promovem trajetórias de descarbonização e respondem às necessidades de desenvolvimento da população local. Por exemplo, o Laboratório Urbano de Buenos Aires no Barrio 20 integrou soluções baseadas na natureza e materiais de construção reciclados num projeto de melhoria de assentamentos informais em grande escala.

As cidades são responsáveis por cerca de dois terços das emissões globais de carbono, e precisam reduzir rapidamente sua pegada de carbono para evitar os efeitos catastróficos das mudanças climáticas. Para alcançar esse objetivo, os especialistas e responsáveis pelas decisões nos ambientes urbanos pedem uma maior colaboração - uma abordagem de transformação que mobilize toda a sociedade.

As estratégias zero carbono e os caminhos para a descarbonização não são simples
Os prefeitos e governos municipais enfrentam interesses concorrentes e recursos limitados, e os departamentos ambientais e do clima são muitas vezes isolados dos departamentos de planejamento econômico e de infraestrutura. Muitas estruturas e abordagens de governança inovadoras vêm sendo propostas por especialistas, mas ainda existem lacunas significativas de conhecimento e desafios de implementação.

Exemplos de políticas e estudos de caso podem ser úteis, mas a complexidade e a diversidade das cidades significam que precisamos de espaço para a experimentação, a inovação e uma abordagem de aprender fazendo. Aprender com pares através de parcerias entre cidades e intercâmbios horizontais pode reforçar e ampliar o conhecimento produzido localmente, além de criar redes de solidariedade entre atores com agendas compartilhadas.

No contexto do desenvolvimento internacional, intercâmbios entre os beneficiários de programas de apoio ao desenvolvimento - em outras palavras, a cooperação Sul-Sul - podem descentralizar as hierarquias de poder Norte-Sul e realçar o valor do compartilhamento de conhecimentos e do desenvolvimento de capacidades entre as partes interessadas no Sul Global.

Apoiando a transformação através de processos comunitários
Reconhecendo a importância de tais intercâmbios, o projeto TUC desenvolveu uma Comunidade de Transformação, um mecanismo interprojeto baseado no conceito de comunidades de prática: mecanismos para promover a aprendizagem social dentro de um grupo de atores com interesses compartilhados e capacidades complementares.

A maioria das comunidades de prática, especialmente aquelas voltadas a profissionais, estão focadas na melhoria das práticas existentes: procuram melhorar em vez de transformar.

Já a Comunidade de Transformação do projeto TUC visa apoiar ativamente a mudança transformadora através de processos comunitários, materiais e de formulação de políticas. Fazendo uso de conceitos da área da educação, podemos definir Comunidades de Transformação como espaços intencionais de aprendizagem social “que criam e promovem espaços inovadores para visualizar e incorporar um novo paradigma de prática.”

A Comunidade de Transformação do TUC é um mecanismo colaborativo e flexível coproduzido com membros do consórcio. Prioriza a aprendizagem e o intercâmbio entre as partes interessadas sobre caminhos colaborativos e inclusivos para a descarbonização. Está alinhada com o compromisso do projeto TUC com cidades inclusivas e justas, e visa preencher lacunas entre as partes interessadas e as agendas sociais, econômicas e ambientais existentes.

A Comunidade de Transformação promoveu uma mistura de eventos presenciais e virtuais. Os primeiros intercâmbios focaram na criação de Laboratórios Urbanos e em formas de colaborar e participar. Desde então, os intercâmbios entre os Laboratórios contribuíram para informar os membros sobre as atividades realizadas nas cidades, e proporcionaram oportunidades para discutir desafios comuns e criar narrativas compartilhadas de transformação urbana.

Aprendemos muito nos últimos dois anos
Um objetivo fundamental e um valor agregado da Comunidade de Transformação é proporcionar espaços para diferentes tipos de conhecimento e aprendizagem em comparação com as plataformas políticas e acadêmicas existentes, que valorizam a novidade e a inovação acima do conhecimento local e tradicional. É importante ressaltar que a aprendizagem e os intercâmbios sociais podem oferecer motivação e inspiração aos atores e oportunidades de compartilhamento de capacidades.

Os desafios para operar a Comunidade de Transformação incluem a conciliação de diferentes idiomas e culturas governantes. A tecnologia oferece novas oportunidades de intercâmbio, mas nem todos têm acesso a equipamentos e conexões estáveis à Internet. Para experiências mais abrangentes de compartilhamento e colaboração, workshops presenciais e visitas de campo são incomparáveis.

Diferentes abordagens para alcançar impacto e escala
Iniciativas comunitárias e projetos-piloto bem-sucedidos muitas vezes enfrentam dificuldades para replicar as ações ou expandir de modo a abranger uma cidade inteira, e essa expansão será o principal objetivo e desafio para a Comunidade de Transformação do projeto TUC.

Alguns parceiros já estão explorando formas de expansão. O parceiro da aliança IIED-América Latina vem conduzindo workshops com governos municipais e organizações da sociedade civil de toda a Argentina. O World Resources Institute Brasil está colaborando com o Ministério das Cidades para escrever um guia sobre Laboratórios Urbanos e ação climática colaborativa em favelas ou assentamentos informais. Esse guia apoiará o desenvolvimento de 30 novos Laboratórios Urbanos em cidades ao redor do Brasil.

A Comunidade de Transformação do projeto TUC continuará facilitando o intercâmbio de aprendizagem entre os Laboratórios Urbanos. Também estamos interessados em aprender com novas geografias e iniciativas em toda a região da América Latina e além.