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Em 16 de maio de 2023, cerca de 90 pessoas participaram de um webinar sobre comunicação transformadora para ativar cidadãos, fortalecer capacidades e inspirar ações climáticas. O evento foi organizado pelo projeto Alianças para Transformação Urbana (TUC) em colaboração com a Digital Storytellers, e realizado pelo Comitê de Paris sobre Desenvolvimento de Capacidades sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.
A sessão reuniu diferentes atores do mundo todo, como cineastas, fotógrafos, criadores de narrativas digitais, podcasters e cientistas. Eles compartilharam suas experiências talk show e forneceram suas ideias sobre como criar narrativas inovadoras e inclusivas para ativar cidadãos ao redor do mundo.
Trabalhando para inspirar
As mudanças climáticas, seus principais motores, impactos e soluções são complexos e difíceis de compreender. O conhecimento é frequentemente formulado em jargão científico e está escondido em sites com acesso pago. “É fundamental olhar além dos círculos acadêmicos e comunicar sobre as mudanças climáticas com todas as partes da sociedade”, disse o palestrante Dickon Bonvik-Stone, criador do podcast Communicating Climate Change. “É uma oportunidade perdida se não nos engajarmos melhor com nosso público. Precisamos tornar o conhecimento acessível.”
Um exemplo concreto foi dado por Millena Oliveira, Analista de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil – uma das parceiras do projeto TUC. Ela descreveu como na cidade-piloto Recife a comunicação básica, mas impactante, é disseminada por meio da chamada “anuncicleta”: uma pessoa em uma bicicleta com um alto-falante, que anuncia uma reunião do projeto TUC para toda a comunidade. Andrea Ramirez, pesquisadora sênior da UNU-EHS, acrescentou que conhecer seu público é essencial. Ela explicou como a comunicação e a capacitação estão interligadas na facilitação da transformação urbana. O projeto TUC envolve os atores locais na atividade de pesquisa, porque é impossível estabelecer alianças urbanas em direção a cidades mais verdes, adaptadas ao clima e socialmente mais justas sem a troca de informações. O TUC usa imagens como forma de contar histórias e mostrar avanços. Por exemplo, são organizados concursos de fotografia e as fotos foram exibidas durante uma exposição na COP27. “A luta contra as mudanças climáticas e a justiça social andam de mãos dadas”, disse Ramirez.
Outra maneira de aumentar a conscientização e engajar o público é por meio da comunicação científica cidadã, explicou Diana Garlytska, da Comissão de Educação e Comunicação da IUCN. Ao falar sobre como criar boas narrativas inclusivas e colaborativas, ela destacou como a crise climática não pode ser solucionada por um único ator ou grupo de partes interessadas. “O engajamento de múltiplas partes interessadas é necessário para o desenvolvimento sustentável”, disse Garlytska. “Isso garante diversidade e perspectivas diferentes a partir de locais diferentes. Os contextos locais influenciam as partes interessadas e a diversidade requer abordagens diferentes.” Ela revelou como a combinação de narrativa e ciência cidadã pode ajudar muito nesse processo: “A ciência é assunto de todos e precisa ser acessível e compreensível.”
Pete Dowson, da Digital Storytellers, concordou plenamente com Garlytska. Ele afirmou que as histórias são tão poderosas quanto os impactos que elas criam. Contar histórias ajuda a dar sentido ao que acontece ao nosso redor e é um dos ofícios mais antigos do mundo. Dowson esclareceu sua fala com o uso de uma metáfora: “Se compartilharmos nossas histórias, elas voltam para nós como um bumerangue australiano. O feedback que recebemos sobre nossa história geralmente é muito diferente da história inicial. Isso nos ajuda a estarmos abertos a mudanças e a novas perspectivas.” Para ilustrar a magia da criação de histórias, Dowson mencionou que existem três histórias específicas a serem compartilhadas na comunicação de histórias climáticas para um mundo melhor. São histórias que descrevem uma memória que de alguma forma o impactou, histórias da visão mais brilhante para o futuro mais brilhante e histórias que esclarecem os próximos passos que podemos dar para alcançar esse futuro mais brilhante.
Ao comunicar uma certa mensagem, a cineasta, fotógrafa e exploradora da National Geographic Molly Ferril apresentou suas opiniões sobre como não apenas inspirar, mas também ativar os cidadãos. Vídeos e fotos podem nos aproximar da experiência de outra pessoa. “Só nos importamos com o que conhecemos profundamente. Se vivenciássemos pessoalmente a mudança climática, estaríamos mais propensos a agir”, disse Ferril. “Filmes e fotografias são a maneira mais próxima de permitir que alguém sinta a experiência de outra pessoa e, portanto, podem ajudar a levar as pessoas a agir.” Ela mencionou como é essencial permanecer fiel à história e como é importante incluir colaboradores locais como aliados em sua história. As histórias ambientais costumam ser pesadas e difíceis. Dizer a verdade sem sobrecarregar as pessoas é um desafio, mas incluir soluções pode ajudar, pois ajuda o público a se conectar e se engajar, aumentando a probabilidade de ação concreta.
Da história à ação
Usar a comunicação para aprender com os outros e aproximar a ciência de um público pode ser complicado. Dowson destacou como esse processo pode ser ajudado por mensagens menos baseadas em dados. “Os dados não são pessoais ou relacionáveis. Encontre uma história pessoal que incorpore os dados e ajude o público a se relacionar com a experiência de outra pessoa.” Bonvik-Stone acrescentou que quebrar o jargão é essencial, e Ramirez mencionou que a ciência não é a única fonte de conhecimento. “As pessoas sabem quais são suas prioridades e realidades locais. Ouvi-las em projetos como o TUC nos torna melhores conversadores e, portanto, melhores comunicadores”, explicou.
Como conselho final, Dowson destacou a importância de sempre colocar a história em primeiro lugar, personalizando a ciência: “Fale com o coração. É a maneira mais rápida de mudar a mente.”
A gravação do webinar está disponível aqui.