© Clara Botto / UNU-EHS
Para conduzir sua pesquisa para o projeto Alianças para Transformação Urbana (TUC), Alejandra Ramos-Galvez utiliza abordagens inovadoras para estudar as percepções transmitidas através de narrativas visuais sobre transformações em direção ao desenvolvimento urbano inclusivo, resiliente e sustentável. Como parte da área Futuros Urbanos e Transformação da Sustentabilidade (FAST) da UNU-EHS, ela conduziu uma análise de um concurso de fotografia e elaborou uma publicação científica sobre as ações tomadas por atores locais em todo o mundo para tornar suas cidades mais sustentáveis.
Em relação à sua pesquisa, qual é o papel da arte no apoio às comunidades para que estas possam criar cidades mais sustentáveis e habitáveis para todos?
A arte é a manifestação de uma necessidade de comunicação e uma forma de nos expressarmos. Pode, portanto, revelar muito sobre como as pessoas percebem determinados conceitos. Por exemplo, para o projeto TUC, organizamos um concurso de fotografia com o tema “Cocriando as cidades que merecemos” e pedimos às pessoas que registrassem atividades que contribuem para a meta carbono zero e para cidades mais inclusivas e sustentáveis. As cidades respondem por 75 por cento das emissões globais de CO2, destacando a necessidade urgente de um desenvolvimento urbano sustentável. Zerar as emissões de carbono requer uma transformação socialmente justa que priorize o bem-estar dos cidadãos e das comunidades. Compartilhar narrativas convincentes pode ajudar a aumentar a conscientização e incentivar ações climáticas mais ambiciosas, além de mostrar a percepção atual das pessoas sobre o que isso significa. As fotos enviadas ilustravam muitos ambientes urbanos. Algumas imagens mostravam o contraste entre paisagens verdes e densas de assentamentos, enquanto outras retratavam a alegria irradiada pelas pessoas enquanto trabalhavam para melhorar a sustentabilidade em suas cidades. Tais aspectos são normalmente perdidos em conjuntos de dados não visuais e são, portanto, extremamente valiosos.
Como isso facilita transformações sistêmicas e justas nas cidades?
As fotografias são mais do que listas de parâmetros que estão sendo atendidos ou não. Em vez de indicadores quantitativos, elas fornecem dados de uma forma diferente. Historicamente, as fotografias servem para documentar e registrar. São testemunhos através dos quais podemos reconhecer pessoas, lugares e ações, pois as imagens visuais muitas vezes afetam as pessoas. Deixam marcas e impactam as percepções – e, em alguns casos, ajudam a chamar a atenção para situações em diferentes contextos. Por exemplo, algumas fotografias do concurso retrataram contextos em que a má gestão de resíduos nas cidades proporcionava oportunidades de melhoria, ao mesmo tempo que abordava os riscos para a saúde associados a estas atividades.
Estas características combinadas proporcionam uma abordagem mais holística para entender as cidades. Tradicionalmente, a atividade de pesquisa se concentra frequentemente em duas abordagens convencionais: métodos quantitativos e qualitativos. Nossa abordagem inovadora oferece a oportunidade de estudar a complexidade das experiências humanas sob uma nova luz, voltando a atenção para as dimensões internas das pessoas. Nesse sentido, a arte se conecta a estas dimensões de uma forma que também pode ajudar a alcançar objetivos de sustentabilidade, porque estas dimensões internas refletem nossas motivações intrínsecas para proteger e transformar nosso ambiente.
Em nossa pesquisa, buscamos descobrir as diferentes formas de ação climática que as pessoas realizam nas partes do mundo que chamam de lar. As narrativas escritas e visuais por vezes trazem discrepâncias ou lacunas em seus relatos. Os aspectos visuais adicionais que as fotografias proporcionam podem, nesses casos, muitas vezes transmitir as realidades, percepções e experiências das pessoas onde os dados escritos não conseguem. Além disso, a narrativa visual pode inspirar e motivar outras pessoas a tomar medidas climáticas em suas próprias cidades. Este formato de coleta de dados permite-nos, portanto, retribuir àqueles que compartilham suas informações e contribuições, reforçando o valor de explorar diferentes métodos de pesquisa.
Qual o papel que a arte desempenha em sua vida?
Sou arquiteta de profissão e a arte está sempre presente de uma forma ou de outra: através do trabalho, da música ou do cinema, por exemplo. A arte não precisa ser compreendida, mas deve nos fazer sentir alguma coisa. Quando isso acontece, desperta algo que nos ajuda a acessar nosso eu interior.