© Marília Farias / WRI Brazil
Mudanças lideradas pelas pessoas, em colaboração com diversos parceiros, trouxeram transformações para a Comunidade do Pilar, no centro de Recife, que aos poucos se torna um ambiente menos árido e mais vibrante, inclusivo e acolhedor a partir do projeto Transformative Urban Coalitions (TUC).
As iniciativas promovidas nos urban labs são concebidas a partir da colaboração entre as comunidades, seus residentes e atores dos diversos setores que possuem algum nível de relação com o território em questão. O principal objetivo é promover transformações que melhorem a qualidade de vida e ambiental, e sejam inclusivas e sustentáveis. Em 2023, o trabalho envolveu uma série de encontros, sessões de planejamento, esforços de trabalho e momentos de celebração, como os eventos de Urbanismo Social, o Mutirão da Rota da Infância, o curso de capacitação feminina em artesanato e a apresentação da iniciativa na COP28, além da participação em eventos sobre mobilidade ativa, urbanismo social, entre outros.
No caso do Recife, as intervenções no território têm o objetivo de aprimorar os espaços públicos com foco nas crianças, promover soluções sustentáveis e implementar melhorias lideradas pela própria comunidade, em um processo de incremento da autonomia política e financeira desses moradores. A ideia é unir esforços para que todos os envolvidos possam colaborar para tornar os sistemas urbanos mais integrados e resilientes.
Rota da Infância convida crianças a redesenhar bairro
Uma das articulações conduzidas pela Aliança em Recife foi a iniciativa Rota da Infância. Com a participação ativa das crianças da comunidade, houve uma reconfiguração permanente de uma seção do bairro que já havia recebido intervenções temporárias em 2022. O objetivo dessa iniciativa é estabelecer trajetos seguros para os deslocamentos e atividades recreativas nos espaços públicos, promovendo a integração da Comunidade do Pilar com o restante do Bairro do Recife.
A premissa central é que as crianças devem ser consideradas prioritárias no planejamento urbano. Para isso, é preciso garantir a existência de calçadas, praças e outros espaços que atendam às necessidades do desenvolvimento infantil, com ênfase no ato de brincar. O desenho da nova rua foi elaborado coletivamente com os moradores, adultos e crianças, através de atividades de escuta.
Para criar um ambiente mais acolhedor para os pequenos, a Aliança implementou melhorias como extensões de calçadas, pinturas nos pisos, instalação de mobiliário urbano de uso permanente e o plantio de mudas de ipê (espécie adequada ao clima da região). Quando crescerem, as árvores poderão gerar conforto ambiental. O trecho de intervenção é uma rua sem saída para carros, o que facilitou a transformação em uma rua compartilhada, em que os motoristas são encorajados a diminuir a velocidade e os principais usuários são os pedestres, em especial as crianças.
Resíduos se transformam em renda, sustentabilidade e inclusão
Entre os Grupos de Trabalho definidos para apoiar na execução das diversas atividades da Aliança na Comunidade está o GT Ciclo Sustentável dos Resíduos Sólidos. O grupo tem o objetivo de aumentar a conscientização dos moradores sobre o tema e demonstrar o potencial do descarte adequado de resíduos na geração de renda.
Para tanto, o GT desenvolve uma série de ações, como oficinas, visitas a cooperativas e preparação de espaços para separação e tratamento correto do lixo para melhorar as condições de trabalho e incrementar a renda de catadoras e catadores de recicláveis que moram na Comunidade e atuam tanto cotidianamente quanto pontualmente em atividades de reciclagem.
Outra atividade com foco em da geração de renda a partir de resíduos foi uma capacitação em artesanato, cuja interseção com design revela resultados notáveis. Cerca de 30 mulheres participam do curso promovido pela Aliança. Durante as oficinas, as artesãs exploraram diferentes espaços culturais na cidade em busca de repertório e inspiração.
O foco inicial é a aplicação da técnica do papel machê, muito forte em Pernambuco, que permite a criação de objetos para o mercado de decoração a partir de papel reciclado. Elas estão criando colares e outras peças inspiradas em peças de outros artesãos que trabalham com cerâmica. O curso faz uma ponte entre tendências do design de interiores e a possibilidade desses produtos serem produzidos através de materiais reciclados.
O resultado deste trabalho foi destacado em uma exposição na COP28, evidenciando a qualidade e originalidade das criações do grupo. As artesãs participaram ainda da feira natalina promovida pela Prefeitura do Recife no final de 2023, expondo as peças e ampliando a experiência com a atividade comercial. Essas ações coletivas demonstram o potencial transformador das iniciativas locais promovidas pela Aliança em prol do desenvolvimento sustentável, da valorização cultural e da geração de renda.
Assim como em Teresina, a Aliança pelo Centro do Recife também discute questões de moradia digna e de criação de um espaço comunitário. A Comunidade do Pilar passa por um lento processo de urbanização e de entrega do seu conjunto habitacional. Um Grupo de Trabalho focado em habitação trabalha para viabilizar melhorias nos prédios já entregues, tecnologias sustentáveis para os novos prédios e um programa de gestão condominial que seja compartilhado entre os moradores e a Prefeitura do Recife, proprietária dos imóveis.
Confraternização no Pilar e olhar para 2024
Em dezembro, a Aliança pelo Centro do Recife concluiu o ano com um festival de dois dias na Comunidade do Pilar, celebrando as conquistas alcançadas em 2023. No primeiro dia, o evento contou com uma apresentação de abertura do grupo de Maracatu do Pilar, atividades como bingo e distribuição de brindes, além de uma escuta ativa sobre mudanças na Rua Primavera.
No segundo dia foi realizada uma oficina sobre como produzir geotinta (uma solução ecológica a base de terra, água e cola). Com esse material e apoio da artista local Ianah Mello foi criado um mural artístico em uma das empenas do habitacional.
Neste mesmo dia, a oficina sobre hortas comunitárias ajudou crianças e adultos a entenderem as propriedades medicinais e nutricionais de diferentes plantas, e cada participante levou para casa mudas de temperos e chás. Esse encerramento reiterou o compromisso conjunto de seguir contribuindo para a contínua transformação da cidade em um ambiente mais sustentável, humanizado e acolhedor.