Coletividade e resiliência climática no urban lab de Teresina

Um grupo de pessoas está reunido em torno de uma mesa com pequenas plantas.
Comunidade reunida para a oficina de quintais verdes. © Paulo Sergio / WRI Brasil

Moradores do Urban Lab localizado na periferia de Teresina (PI) começam a colher novos frutos do seu engajamento em comunidade com soluções urbanas que consideram as mudanças climáticas. Em 2023, o segundo ano do Transformative Urban Coalitions na cidade, alguns avanços foram vistos nas ruas, outros dentro de casa.

A Praça dos Sonhos, um canteiro transformado em espaço público através de um mutirão comunitário, rapidamente se tornou o centro de encontro do bairro, com uma feira livre de iniciativa das moradoras. Nas casas, os quintais começam a ficar mais verdes, com plantio de mudas nativas e alimentos, e os resíduos sólidos passaram a ser separados para destinação correta. A Aliança também entregou nas mãos da prefeitura um projeto inovador para um sonhado espaço comunitário sustentável.

Mobilizar comunidades e aprender com esse processo transformador de colocar as pessoas mais afetadas pelas mudanças climáticas no centro das decisões é um dos objetivos do projeto Alianças para Transformação Urbana. A iniciativa selecionou cinco cidades e comunidades na América Latina para promover alianças entre moradores e diversos setores da sociedade, como universidades, poder público, organizações sociais e empresas privadas, para criar soluções inovadoras e sustentáveis de forma participativa e inclusiva.

A Aliança pelo Residencial Edgar Gayoso mobilizou diversas pessoas e instituições para formar uma coalizão com ampla participação da comunidade, somada a professores e estudantes universitários, órgãos ambientais, cooperativas de reciclagem e compostagem, e gestores públicos. Desde o final de 2021, esse grupo passou a se reunir, analisar os desafios enfrentados pela comunidade e discutir soluções para atender às necessidades presentes e futuras. O processo ocorreu em um ambiente propício ao diálogo e à coordenação local, com os moradores se envolvendo nas ações voltadas para melhorias urbanas sustentáveis.

Conhecendo melhor a comunidade

O residencial Edgar Gayoso foi executado com recursos do Programa Minha Casa, Minha Vida — Faixa 1, destinado a famílias de baixa renda. Em 2016, foram entregues 459 residências térreas para as famílias beneficiárias. Sete anos depois, que comunidade é essa? Para responder a essa pergunta, foi realizada uma pesquisa comunitária, que aumentou o empoderamento comunitário ao proporcionar uma compreensão mais aprofundada sobre as pessoas que moram no residencial e sua relação com o território.

Foram aplicados questionários para 217 famílias no residencial Edgar Gayoso, o que representa 47% das residências construídas. Nessas casas vivem 777 pessoas, sendo que a maioria se mudou para o residencial para melhorar as condições de moradia. A pesquisa também indica que 87% das pessoas chefes de família se autodeclaram pretas ou pardas e que 28% têm alguma deficiência ou doença cônica. As mulheres são chefes de família em 66% das casas, o que demonstra seu papel central na dinâmica familiar e é coerente com as premissas do programa Minha Casa, Minha Vida.

As famílias também apontaram aspectos positivos e negativos em relação às condições das suas moradias. Os aspectos positivos incluem a boa iluminação interna (97% das casas) e a segurança da moradia (82%). Já os aspectos negativos são que grande parte dos entrevistados considera sua casa muito quente (90%).

Esse conjunto de informações foi uma base importante para o planejamento de ações para beneficiar a comunidade, como o festival da Cidadania, que levou servidores públicos até o bairro para emissão de documentos de identidade, elaboração de currículos, vacinação contra Covid-19, atendimentos da Rede de Saúde Mental do município, rodas de conversas, salão de beleza itinerante, entre outros serviços.

Tornando o residencial mais verde

Em 2023, a incidência mais forte do fenômeno El Niño, somada aos efeitos das mudanças climáticas, que tornam os eventos extremos mais frequentes e intensos, causou impacto em diversas cidades no Brasil, com mais chuvas no sul, seca na Amazônia e períodos de calor extremo no Sudeste e no Nordeste. Em Teresina, a temperatura chegou a 40°C, afetando inclusive atividades escolares. A capital do Piauí é extremamente quente e seca e faz parte do semiárido brasileiro, área em desertificação.

A falta de árvores e espaços verdes no bairro é um diagnóstico da Aliança, já que cerca de 90% dos moradores relatam o calor como aspecto negativo de suas casas. Outra característica do bairro é que a maioria das casas têm muros altos ao redor, o que cria uma barreira para a rua. Ao mesmo tempo, muitos desses pátios internos não contam com nenhuma arborização ou vegetação.

Para aumentar o verde no residencial e promover a segurança alimentar, em 2023 foram realizadas as oficinas de Quintais Verdes, que prepararam os moradores para o cultivo de árvores frutíferas e mudas alimentícias nos quintais das casas. Os moradores receberam um kit de plantio e foi criado um grupo para troca de experiências, com funcionários da prefeitura e moradores mais acostumados a cuidar de plantas contribuindo com os vizinhos.

Durante esse processo, também foi feito o planejamento e o preparo para uma ação de arborização nas ruas da comunidade com o objetivo de reduzir os efeitos do calor extremo, atualmente agravado pela falta de áreas verdes. O grupo aguarda o período de chuvas, que ocorre no começo do ano, para plantar as árvores, o que pode transformar o local a longo prazo.  

Praça dos Sonhos recebe festa e reflexões sobre o trabalho da Aliança

A proposta do projeto Alianças para Transformação Urbana é estimular ações comunitárias locais que possam ser multiplicadas em um movimento global para melhorar vidas e transformar cidades em espaços verdes e habitáveis, com mais resiliência e qualidade de vida.

O projeto mais ambicioso da Aliança pelo Residencial Edgar Gayoso é o espaço comunitário, pensado para impulsionar geração de renda, qualificação profissional e educacional, além de oferecer um local de convívio, esporte e lazer em um equipamento público de alta qualidade e inexistente naquela região da cidade.  O projeto está sendo analisado pela Prefeitura de Teresina, que busca recursos para realizar a obra.

Em preparação para a construção do espaço comunitário, a Aliança investiu em oficinas de bioconstrução (técnica de taipa de pilão) e no planejamento de um ecoponto para a triagem e reciclagem de resíduos. Esses e outros elementos farão do espaço comunitário uma referência em sustentabilidade na periferia de Teresina.

Em dezembro, foi realizado um momento especial para reflexão e celebração das conquistas alcançadas ao longo do ano. Na oportunidade, a Aliança pelo Residencial Gayoso convocou a comunidade para uma festa que não apenas marcou o fim do ano, mas também permitiu a todos recordar e celebrar juntos os frutos de um trabalho árduo e dedicado. Em meio a essa atmosfera, foram partilhadas lembranças sobre as iniciativas que fortaleceram a vida na comunidade.